sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Dulce Maria

                Esta exposição em fotografias e video, nasce na espontaneidade de um encontro e do acolhimento recebido em casa de um amigo em Cuba. Num cenário familiar e rotineiro,  procurei simplesmente acompanhar e compartilhar de uma experiência comovente: a relação entre uma filha e sua mãe idosa. 
           Nesta relação, a mãe já bastante adoecida e praticamente acamada, depende dos constantes cuidados de sua filha que, sem medir esforços, com paciência, carinho e doação, transforma esta cena, aos meus olhos, aparentemente cansativa e sofredora, numa realidade de amor incomensurável, delicadeza e compaixão

Abertura: 18 de outubro das 19 h à 21 h
Visitação:  18  à 31 de outubro - das 8:00 às 19:00 horas.
Local: Galeria Martinho de Haro – Câmara Municipal de Florianópolis – Rua Anita Garibaldi, 35- Centro.

FLORIPA NA FOTO

CEART/UDESC

Texto do crítico de arte

"Abordando através do vídeo e do registro fotográfico  a relação mãe-filha numa situação limite, Virginia Yunes nos mostra uma série de impactantes imagens, onde a precariedade da condição humana é exposta em toda sua fragilidade e grandeza.

A intuição criadora de Virginia, levou-a a perceber e explorar as possibilidades expressivas contidas nas cenas do cotidiano na casa onde Virginia estava hospedada em Santiago de Cuba (2011).

Totalmente dependente, a mãe idosa e doente e a filha amorosa, foram as protagonistas desse vídeo e desta série de fotos.

As cenas, cuja verdade, não omite nem os detalhes escatológicos, impressionam pelo enquadramento, luz e detalhes que lembram o clima néo expressionista de algumas pinturas de Lucien Freud (mãe sobre o leito).

Sem visão, praticamente sem fala em estágio avançado da doença, a mãe é um esquálido corpo idoso, flácido que jaz inerte sobre o leito, com um radio de pilha ao lado. Comunica-se com a filha, ao liga-lo, e através dele também ouve novelas de que gosta muito. A solidão e o desamparo da mãe, no finalzinho de suas forças vitais, contrasta com a vitalidade e o vigor da filha, que lava, cozinha, limpa, cuida, sem transparecer em momento algum o menor sinal de exasperação, rancor ou impaciência. Trata-se literalmente de uma relação amorosa pautada no respeito e na dignidade com que o ser humano merece ser tratado em qualquer circunstância da vida.

Parece simples, mas nossa sociedade costuma varrer para baixo do tapete temas incômodos como esse. A proposta de Virginia com seu antiesteticismo, coloca-nos a frente a frente, com a dura realidade da condição humana. Degenerescência, doença, velhice e morte são coisas que podem acontecer com todos, mas são incompatíveis com um sistema que propõe o consumismo de uma mundo artificial, fútil e sem piedade.

O aspecto chocante de algumas cenas registradas tem seu contraponto nas atitudes da filha corajosa, serena e fraterna. Numa das fotos com a mãe ao fundo, ela observa-nos em primeiro plano,  em seu olhar parece pairar um certa perplexidade pelo mistério da vida , que sobre seus cuidados se esvai.

No entanto ao registrar cenas tão impactantes, o olhar de Virginia não é de espanto, de repulsa ou de horror. É antes um olhar amoroso, feminino que aceita, acolhe, que revela (desvela), os meandros das relações humanas, neste caso, tão belamente representado.

Levando as fronteiras do espaço e local femininos, para bem além dos limites desmarcados pela sociedade patriarcal em que vivemos, Virginia nos desvenda de forma contundente um mundo que ficou pela exclusão, sufocado nas dobras do discurso dominante".

Joao Otávio Neves Filho – Janga
Membro da Associação Internacional de Crítica de Arte via a Associação Brasileira de Crítica de Arte (ABCA-AICA) 


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sábado, 1 de outubro de 2011

Nos braços do mar



Você sabe por que o mar é tão grande, tão imenso... tão poderoso...
É porque teve a humildade de colocar-se alguns centímetros abaixo de todos os rios.
Sabendo receber, tornou-se grande. Se quisesse ser o primeiro;
centímetros acima de todos os rios, não seria mar, mas sim uma ilha.
Toda sua água iria para os outros e estaria isolado.
A perda faz parte. A queda faz parte. A morte faz parte.
É impossível vivermos satisfatoriamente.
Precisamos aprender a perder, a cair, a errar e a morrer.
Impossível ganhar sem saber perder.
Impossível andar sem saber cair.
Impossível acertar sem saber errar.
Impossível viver sem saber viver.
Se aprenderes a perder, a cair, a errar,
ninguém mais o controlará.
Porque o máximo que poderá acontecer a você é cair,
errar e perder. E isto você já sabe.
Bem aventurado aquele que já consegue
receber com a mesma naturalidade o ganho e a perda...
o acerto e o erro... o triunfo e a queda... a vida e a morte
.
(autor desconhecido)