México




"Las mañanitas":


Estas son las mañanitas, que cantaban al rey David
A las muchachas bonitas, se las cantamos aqui
Despierta mi bien, despierta, mirá que ya amaneció
Ya los pajaritos cantan, la luna ya se metió
Que linda esta lá mañana en que vengo a saludarte
Venimos todos com gusto y placer al felicitarte
El dia que tu naciste, nacieron todas las flores
Y en la pila del bautismo, cantaron los ruiseñores
Ya viene amaneciendo, ya la luz del dia nos dio
Levantáte de mañana, mira que ya amaneció.”


A música "Las mañanitas" é cantada para todos os aniversariantes, no dia do aniversários os parentes e amigos vão até sua casa pela manhã bem cedo e cantam como uma serenata.

Também nos aniversários eles costumam brincar com a “Piñata”, é como se fosse um balão feito de papel bem colorido em forma de estrela, que recheiam de balas e frutas. Ela representa os pecados capitais na religião católica, na festa as crianças utilizam um pedaço de pau que simboliza a fortaleza e o amor de Deus que destrói o pecado, para bater nela até arrebentar e cair todas as balas sobre elas que vem a ser as graças e benções (balas) do Senhor por vencer o pecado. Sempre cantando:

“Dale, dale, dale, no pierdas el tino, porque si lo pierdes, pierdes el camino. Dale, dale, dale, no pierdas el tino, mide la distancia que hay en el camino. Dale, dale, dale, no pierdas el tino, porque si lo pierdes, pierdes el camino. Dale, dale, dale, dale y no le dio, o también se usa esta versión: Dale, dale, dale no pierdas el tino por que si lo pierdes pierdes el camino ya le diste uno ya le diste dos ya le diste tres y tu tiempo se acabo”.


Janeiro de 2003: durante 30 dias tive a oportunidade de conhecer de perto como vivem alguns indígenas ao sul do México, no Estado de Guerreiro cuja capital é Acapulco, num vilarejo localizado entre as montanhas chamado Cuanacaxtitlan que significa “galinha em seu ninho”.

Geografia: É um vilarejo muito pequeno, colonizados pelos índios Mixtecos chamados também “el Pueblo de la Lluvia” (pertence a um dos 56 etnias do país). Possui aproximadamente 4000 habitantes, na maioria crianças e mulheres, vivem da cultura do milho e feijão. Além do espanhol falam na sua língua o que torna muitas vezes difícil a comunicação. As cinco línguas indígenas mais faladas no México são Nauatle (dos astecas), o maia, o zapoteca, o otomi e o mixteco. Algumas palavrinhas em mixteco: “Tahiani” (como vai irmão?), “Sananium” (Qual é seu nome?), “Tanindi”(Bom dia), “Tanicua”(Boa tarde).

De Acapulco até o Cuana são aproximadamente 200 km, numa estrada de terra, montanhosa e bastante difícil, para não dizer perigosa. Como não há um só transporte que faça o percurso inteiro é necessário trocar e cada trecho é feito por um tipo de transporte diferente de acordo com a necessidade, tornando a viagem uma verdadeira aventura e pinga-pinga. O primeiro pedaço do caminho, se faz em um táxi com três passageiros na frente e quatro atrás, depois se sobe numa Kombi até São Luís de Acatlán, um centro maior onde termina a estrada de asfalto e por último se sobe na boleia de uma caminhonete junto com mais 30 pessoas todos bem apertados, esta viagem nunca dura menos de 4 horas.



Moradia: As casas são pequenas, quase sempre de adobe ou tijolo cru, feito com argila seca ao sol. , eles dormem sobre uma esteira estendida numa cama sem colchão. O banheiro geralmente fica na rua e a comida é preparada no pátio no fogão de chão. O povo é muito hospitaleiro e possuem uma atenção com o hospede única. Simpatia, é a palavra que melhor traduz o povo mexicano, gente simples, alegre e muito acolhedora.



Vestimentas: O traje tradicional das mulheres Mixtecas é o “huipil”, blusa bordada por elas mesmas, com motivos bem coloridos como flores e animais e uma saia com babados e rodada colorida. Elas possuem uma estatura média de 1,60m, cabelos pretos e cumpridos sempre penteados com uma trança.





Culinária: a comida típica é a “tortilla”: é um género de pão azimo confeccionado a partir de farinha de milho. Pratos típicos: Mole, Tamales, Posoles, Tacos, Guacamole, Burrito, Enchiladas, Quesadillas..... estas comidas são bem elaboradas a base de carne de peru, ou porco, abacate, folhas de bananeira, usam muito o coentro (cilantro), cebola e alho para condimentar e principalmente o chili (pimenta de várias espécies). Possuem o costume de comer com muita pimenta eles dizem que “se não arder, não tem graça”. Até pirulito de pimenta existe.






Dezembro e Janeiro é tempo quente e seco (sem chuva), época de colher o milho, tarefa esta designada ao homem que se levanta muito cedo (4 da madrugada) para ir ao monte onde fica sua plantação, o terreno mais perto fica a mais de uma hora de caminhada. Lá pelas 10 da manhã sua esposa prepara o almoço (marmita) e o leva ao seu marido que irá voltar ao raiar do dia. Muitos deles se mudam para o monte onde tem o terreno (a plantação), ficam semanas acampados até terminarem de colher todo o milho, que lastimavelmente é vendido a “preço de banana

Comunicação: No vilarejo existe uma venda que possui um parlante que toca música bem alta o dia inteiro. A verdadeira finalidade do parlante é dar recados, pois existe apenas um telefone no vilarejo que fica na venda, então quando uma pessoa de fora chama o dono da venda atende e pede para voltar a ligar em 10 minutos, tempo suficiente comunicar parlante e a pessoa se deslocar até a venda. Claro que aproveitam para dar outros recados importantes como, convocando para alguma reunião, avisar se alguém morreu ou mandar saudações de aniversário, fazer propaganda de vários produtos como: “temos galinha que a venda na casa de dona Josefina”, “as verduras acabam de chegar na cidade!” entre outros. Cada aviso é pago, é como uma espécie de rádio a serviço da comunidade. Na missão também há um parlante que acorda toda a cidade às 6h da manhã rezando uma Ave Maria e a tarde convida todas as pessoas a participar da missa.

Casamento: presenciei três casamentos e um rito chamado “pedimento” onde é pedido oficial a noiva em casamento perante toda a família, uma vez que os pais e os interessados estejam de acordo. O noivo e seus parentes dirigem-se à casa da noiva, levando pão, cigarros e licores para ela e seus parentes. Os pais dos noivos fazem uso da palavra e logo marcam a data do casario e discutem as eventuais heranças. Os festejos começam dois dias antes e terminam três dias depois da celebração. Todos os familiares e amigos mais próximos participam ativamente dos preparativos, eles são convidados a serem padrinhos e madrinhas e assumem certas responsabilidades, como por exemplo: há as pessoas encarregadas de entrar na mata e cortar galhos para fazer a cobertura do lugar onde os festejos serão realizados (padrinhos da ramada). Os pais dos noivos estão encarregados de comprar um boi ou dois porcos para a festa; outros devem comprar os fogos, outros devem arranjar as bandas para tocar durante a festa. Há os padrinhos das alianças, os padrinhos das velas (eles devem acender as velas a um certo momento da cerimônia), ainda existe o padrinho que carrega o buquê da noiva, dois padrinhos que devem colocar uma espécie de laço no pescoço dos noivos (que significa a unidade, a indissolubilidade do matrimônio), uma vez terminada a cerimônia,

Na cultura mixteca só o homem é valorizado. A função da mulher é dar à luz os filhos, preparar a comida, manter a casa em ordem e responsabilizar-se pela educação da prole. Mas é o homem quem decide e resolve tudo. A economia e o poder em geral estão na mão dele.



Religiosidade: possuem uma devoção imensa pela Virgem de Guadalupe, todas as casas sem excessão possuem um pequeno altar com a imagem da virgem, um vaso com flores e uma vela sempre acessa. (vale a pena contar a historia da virgem) Uma senhora me contou que quando ela fica doente ela reza desta maneira: “Cura-me virgenzinha querida, assim eu posso continuar cantando para ti, se estou doente quem cantará para ti?”

Nossa Senhora de Guadalupe: considerada a principal evangelizadora do México. O sentimento de pertença à Igreja católica é fortíssimo em cada mexicano, especialmente por causa da “Virgem Morenita". O milagre, que foge a toda explicação natural, está presente e bem documentado na história da aparição de N.Sra. de Guadalupe: as flores que brotaram, em pleno inverno, no lugar da aparição e que João Diego, o indígena a quem N.Sra. apareceu, levou ao bispo, já tem em si algo de milagroso; a túnica de João Diego, na qual ficou impressa a imagem de Nossa Senhora também: feita de um tecido muito barato, tão ralo que através dele se pode enxergar quem está na igreja, conservou-se, não se sabe como, durante cinco séculos, sem apresentar nenhum sinal de desgaste; um laboratório alemão examinou as cores da pintura e achou que semelhantes a elas não se encontram em nenhuma outra parte do mundo, nem no reino animal nem no reino vegetal ou mineral; é a única pintura no mundo em que as cores não se desgastaram depois de 500 anos; nas pupilas dos olhos de Nossa Senhora foram descobertas - através de aparelhos especiais fornecidos pela NASA - as imagens das doze pessoas que estavam presentes na casa do bispo, quando se realizou o milagre, isto é, o aparecimento da imagem da Virgem no manto de João Diego.

Mas não são esses fatos milagrosos que explicam a grande influência que N. Senhora teve e tem sobre todos os mexicanos. O que mais impressiona é o fato de Nossa Senhora ter-se manifestado a João Diego, usando unicamente símbolos da cultura asteca. De fato, ela apareceu, em 1531, no monte Tepeyac, perto da Cidade do México, onde se venerava Tonantzin, deusa que representava a mãe-terra.

O rosto de Nossa Senhora não é branco, e sim moreno, simbolizando a síntese entre o povo índio e o espanhol, isto é, o povo mexicano. Ela não falou castelhano e sim nahuatl, a língua de João Diego. Ela está grávida e tem em sua roupa todos os símbolos que as mulheres astecas usavam para indicar a gestação: duas fitas negras caídas ao longo do corpo e sobre elas uma cruz indígena que indicava o encontro entre o humano e o divino. Seu manto verde e azul tem as cores das divindades astecas do céu e da terra; sua túnica é de um tom vermelho pálido que é a cor do deus supremo dos astecas; as flores que ornamentam a túnica são as que se encontram no monte Tepeyac, o monte da deusa-mãe Tonantzin. Nossa Senhora de Guadalupe falou diretamente ao coração dos mexicanos. A linguagem que usou para falar com João Diego foi uma linguagem que toda mãe carinhosa usaria com seus filhos. As mulheres mexicanas consideram-na como uma delas.

Como disse João Paulo II na homilia pronunciada na basílica de N. Senhora na Cidade do México: "Desde que o índio Juan Diego falara da doce senhora de Tepeyac, tu, Mãe de Guadalupe, entras de modo determinante na vida cristã do povo do México." Entrou porque falou a língua deles e se expressou com os símbolos deles. Foi um exemplo perfeito de inculturação, antes que concílios, sínodos e teólogos começassem a usar esse termo (Escrito por Alberto Garuti)



A missão: a missão do PIME (Pontifício Instituto das Missões Estrangeiras) presente há muitos anos desenvolve um belo trabalho, preocupados muito com o social. Uma das atividades é oferecer água purificada a toda a comunidade, dentro do terreno da missão possuem o maquinário necessário para purificar a água e as pessoas vêm com seus galões de água carregados pelo burrinho abastecer. Na mesma missão existe um consultório com um médico, que atende dia e noite os mais variados casos, este médico faz milagres para atender com tanta paciência e carinho todos os doentes. Esta iniciativa surgiu porque ali só existe um posto de saúde que raramente se encontra um médico Há muitos remédios que vem de doações e são dispensados gratuitamente na consulta porém como nem todos os remédios que são necessários, são ofertados, o padre montou uma pequena farmácia que vende os medicamentos a preço de custo. Outra das atividade são as bolsas de estudos, onde todos os meses as crianças mais carentes recebem da Missão uma quantia de dinheiro para seus gastos como a comida, roupa, material escolar, etc. A missão também organizou uma espécie de Banco do Povo, uma maneira de ajudar as pessoas a economizarem, há uma pessoa encarregada de receber o dinheiro que logo será depositado num Banco em Acapulco, faz as devidas anotações e concede empréstimos quando necessário, cobrando juros mínimos.



Como em toda paróquia existem as atividades paroquiais: missas, catequeses, encontro de casais, curso para noivos, novenas e muito mais e aos pouquinhos percebe-se que a comunidade está se abrindo para o novo modo de ser igreja, mesmo que a religião tradicional deles seja muito forte, já há um grupo de lideres que estão comprometidos com as atividades paroquias e com a comunidade. Não é fácil mudar uma mentalidade e costumes impregnados, por exemplo eles não comugam se naquele dia eles não se confessaram, no Domingo a igreja está cheia mas poucos comugam, aprenderam desta forma e deve-se com todo cuidado e respeito e muito tempo mostrar-lhes que é diferente.

Registros do coração: Num balanço geral posso dizer que cada povo com sua história, tradição, ritos e costumes nos enchem de riquezas. Vivi com eles e deles trouxe a certeza de que a vida, por mais difícil que seja deve ser vivida na alegria e na certeza de que a virgem cuida de nós. Dos missionários trouxe o exemplo de entrega e paciência, constatando que precisam de mais trabalhadores porque a messe é grande. No coração a certeza de que em cada povo, com sua história, seus costumes, vêm construindo um pouquinho da minha vida, que em cada tempo é enriquecido com novas experiências que são para eternidade. Valeu demais!