Uganda


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Sim, é verdade que sempre quis voltar para África. Em todos estes anos desde meu regresso de Guiné no final de 1999, fiquei sonhando e desejando pisar naquelas terras que tanto me traziam lembranças boa. Entretanto, nunca imaginei que esta oportunidade se daria de um dia para o outro, como num passe de mágica.

10 de dezembro de 2008: Tudo começa com um telefonema de uma grande amiga (Olga) que trabalhava no escritório do RCC, me pergunta se eu estaria disposta a ir para Marajó (Pará), documentar (fotografar e filmar) um projeto de apadrinhamento a distâcia de crianças. Eu sem exaltar aceitei.

Uma semana depois os planos mudam. Recebo um novo telefonema com uma nova proposta: ir para Uganda – África, documentar um projeto que trabalha com crianças órfãs e aidéticas. Como precisa de ajuda econômica e de pessoas voluntárias, o material que eu iria produzir serviria para este fim. Bom, creio que nem preciso expressar o tamanho da minha felicidade e do meu SIM!


Agandi (Olá)

03 de janeiro de 2009: Embarco rumo à Joanhsburg (África do Sul) e após algumas horas de espera fiz uma conexão para Uganda, conhecida com a “perola da áfrica”. País localizado na parte oriental, faz fronteira com Quênia, Ruanda, Congo e Tanzânia. Foi uma ex-colônia inglesa, portanto sua língua oficial é o inglês e o suaíle (Kiswahili), que vem a ser a língua nativa daquela região. O café, principal produto, responde por 93% das exportações. A moeda é o xelim ugandes (UGX) = 1 US$: 1.210,00. Famosa também por possuir a maior reserva de gorilas das montanhas (Gorilla beringei beringei) e pelos seus parques e grandes lagos, entre eles o Lago Vitória, o maior da África.Por todas as partes há uns pássaros grandes muito feios, são símbolos do pais estão inclusive na bandeira do pais.

Uganda teve como a maioria dos países africanos alguns capítulos de suas historia de muito sofrimento e dor. Um deles foi a dominação do General Idi Amin Dada que massacrou o povo como bom ditador que era. Chegou a torturar e matar mais de 300 mil pessoas, esquartejou uma de suas esposas e era considerado um seguidor de Hitler.

Cheguei no pequeno aeroporto de Entebe, cidade vizinha de Campala - capital do país, perto das 19h e lá me esperava um cartaz com meu nome, retiro minha bagagem e me aproximo do rapaz que, sem muitas palavras me levou até um hotel a poucos kilometros. Muito envergonhada admito que não sei falar inglês fluentemente mas não seria isso um empecilho para viajar, a comunicação vai acontecer de alguma maneira, com ou sem “atropelos”.

Na manha seguinte, lá pelas 6 h batem na porta me fazendo levantar rápido pois um carro aguardava para me levar ao local onde seria a conferencia. Ficava a uns 400Km de distancia, numa cidade ao sudeste chamada Mbarara. Essa viagem tardou mais de nove horas e no caminho eu já começava a observar e me deliciar com tanta novidade, tantas cenas familiares e outras completamente inéditas e essa sensação de estranhar e me sentir estrangeira particularmente eu gosto.

The 2nd Holy Spirit Conference of world youth - encontro que reuniu aproximadamente 70 mil pessoas do país inteiro e de outros países inclusive. Foi uma experiência indescritível. Ver as pessoas chegando a pé com sua trouxas na cabeça, após terem caminhado mais de 6 horas ou amontoadas em boleias de camioes. Em poucas horas aquela grande área ao sol era ocupada acomodando-se uns junto aos outros, sobre colchonetes ou sobre plásticos e tecidos, pelos próximos 5 dias. Dormindo, comendo e orando. Os banheiros (buracos no chão com paredes de palhas) foram improvisados bem distantes, na periferia.


A comida, muitos deles trouxeram em marmitas, mas também foi organizado num dos cantos do “acampamento”, uma espécie de “restaurantes” – lugar onde as pessoas se agrupavam e cozinhavam em imensas panelas sob o fogo da lenha. A comida típica da Uganda é o Matooke (uma pasta de plátano –banana verde cozida), além do arroz branco, feijão (não feijoada) , sempre sem talheres, lá se come com a mão e muitas vezes o prato é dividido entre duas ou mais pessoas, bom mesmo é comer diretamente da panela.



 

Nesses dias houve muitas palestras, cantos, louvores e tudo mais. As missas duravam em média 3 horas e cada parte da liturgia era feita com danças típicas e muita música. A atmosfera era de muita alegria e era muito perceptível a vibração das pessoas, a energia. Foi bem tocante perceber ainda o numero de crianças que participava, como prestavam atenção e o silencio que faziam nos momentos próprios para isso.


Eu caminhava entre eles para fotografar e filmar, e era sempre acolhida calorosamente, todos me comprimentavam e convidam com algo para comer, as crianças não perdiam a oportunidade de segurar na minha mão e me acompanhar de mãos dadas. O problema era que eu precisava de minha mãos para operar o equipamento, que alias tive que me desdobrar para filmar e fotografar ao mesmo tempo, sempre estava a decidir se fazia um ou outro para cada cena. Foram cinco dias exaustivos, acordando ás 5 da manha com suas batucadas e cantos que é impossível traduzir em palavras e beleza do som e da melodia e dormindo às 2 da madrugada pois as atividades terminavam por volta da meia-noite mas eu ainda devia descarregar as imagens, carregar baterias e deixar tudo preparado para o dia seguinte.


Fiquei uma semana a mais no país com a intenção de captar algumas imagens para ilustrar o vídeo, contextualizando a própria realidade: como vivem, como é seu dia-a-dia, suas casas, seus afazeres e tudo mais. Visitei uma comunidade que vive numa montanha e para chegar foram precisos 40 minutos de camionete sempre em subida e curvas, entretanto as pessoas que ali habitam não possuem nenhum meio de transporte além das próprias pernas, as que moram lá no alto leva aproximadamente 2 horas para subir andando. As casas são simples, pequenas, feitas de pau-a-pique e barro, não possuem eletricidade nem a água, esta última é preciso buscá-la nos riachos ali próximos os distantes. Vivem fundamentalmente da plantação de banana e alguns criam vacas.



Numa ocasião uma mulher se aproxima do padre que me acompanhava pedindo que, por favor fosse na sua casa dar a unção dos enfermos ao seu marido que se encontrava muito doente sem sair da cama há vários dias. Como é praticamente impossível carregá-lo a pé até o hospital restava apenas esperar a morte, foi o que ela nos disse com muita tristeza. Fomos ao encontro desse senhor e ao entrar no quarto escuro, iluminado por uma pequena janela sentia-se o cheiro da morte, um cheiro forte e desagradável originados de um tumor avançado na próstata. Esse homem era também portador da AIDS agravando ainda mais o quadro clínico. O padre Emmanuel decidiu portá-lo até o hospital e logo pediu que providenciassem um colchão e ajuda aos vizinhos para colocá-lo atrás da camionete. Fomos para o hospital e chegando lá nos deparamos com a dura realidade da saúde “publica” daquele pais, muitas pessoas aguardando para ser atendidas, poucos médicos, poucos instrumentos de trabalho - dos poucos que existem muitos estão estragados sem nenhuma perspectiva de concerto, cada doente deve portar seu colchão, lençóis e comida. No mesmo hospital existe uma cozinha comunitária onde os parentes preparam o alimento. Como ficam aqueles que precisam de dieta especial? Infelizmente não sei que fim levou esse homem, mas penso que se hoje ele estiver vivo com certeza será um entre tantos que teve a sorte de receber essa ajuda! Nada acontece por acaso!



Em Uganda há muitas crianças órfãs portadoras do vírus da AIDS, seus pais já morreram vitimas da mesma doença. Hoje parece que o país se tornou um exemplo raro de sucesso na luta contra a Aids na África, ao reduzir significativamente a incidência que já foi das mais altas do continente. Este fato é fruto da mudança de comportamento, as pessoas estão optando pela fidelidade e abstinência sexual dos solteiros, surpreendendo a ONU e outras entidades. É uma luta que vai levar muitos anos, pois mudar a mentalidade é um processo muito lento, porém certo. Muitas vezes a própria cultura não atua a favor, uma das crenças que eu conheci e me deixou bastante chocada foi de saber que algumas pessoas acreditavam que se um homem infectado com o vírus da Aids tiver relações sexuais com uma mulher virgem, ele automaticamente sara. Sinceramente não entendi qual a lógica mas sei que por causa desta crença muitas meninas de 4 a 5 anos tinham sido vitima de estupro e com certeza contraído o vírus.




Visitei um dos tantos Parques e Lagos que o país tem como alguns animais soltos como zebras, gazelas e hipopótamos... um pequeno safári. Foram duas semanas comendo praticamente apenas banana. Conheci muitas pessoas queridas e divertidas que fizeram parte da minha historia naquele pais, entre elas: Pe. John (Uganda), Giovanni (italiano das cruzes), Cedric (apoio técnico), Maureen (de Mombasa- Quênia), Lauro e Gloria (casal inglês), Dick, Dr. Mary (EUA), a simpática conterrânea Beatriz e muitas outras pessoas que recordo com carinho!





DICAS

Filmes:

O Último Rei da Escócia (Direção: Kevin Macdonald – 2006)

Sinopse: Nicholas Garrigan (James McAvoy) é um médico escocês, que parte para Uganda em busca de aventura, romance e alegria, por poder ajudar um país que precisa muito de suas habilidades médicas. Logo após sua chegada é levado ao local de um acidente bizarro, onde o líder recém-empossado do país Idi Amin (Forest Whitaker), atropelou uma vaca com seu Maserati. Nicholas consegue dominar a situação, o que impressiona Amin. Obcecado com a cultura e a história da Escócia, Amin se afeiçoa a Nicholas e lhe oferece a oportunidade de ser seu médico particular. Ele aceita a oferta, o que faz com que passe a freqüentar o círculo interno de um dos mais terríveis ditadores da África.