segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Guiné Bissau - o retorno

Domingo (25/07) - Aroporto Hercilio Luz (Floripa): é meio-dia e lá estava eu pronta para mais uma aventura, depois de 10 anos eu finalmente retornava a Guiné Bissau. Durante todos estes anos eu sofri do tão conhecido “mal d'africa” (é uma vontade louca de voltar, de estar mais tempo na Africa, uma saudades sem nome) e parecia mentira que justo neste ano que tinha conseguido lançar um livro sobre aquelas terras eu tenho esta oportunidade. Fui a convite para fotografar a ordenação sacerdotal de Gaudêncio, primeiro padre guineense do PIME, que adiante explico melhor.

O aviao atrassou 2 horas e apenas chegou em Sao Paulo embarcamos para Fortaleza. A viagem para Cabo Verde pela TACV (Aerolineas Cabo Verdeanas) estava prevista para 1:30h da madrugada mas também houve um atraso bastabte significativo pois embarcamos às 5:30hs a.m., naquelas poltronas duras, divididas individualmente para que ninguem deite nos espalhamos, alguns arriscaram a se jogar no chao frio a procura de um descanso. Os passageiros estavam revoltados, com sono e fome, mal sabiamos o que nos esperava.

Segunda-feira (26/07) - Chegamos em na Ilha de Praia -Cabo Verde por volta das 11h (hora local) e as pressas fizemos a transição para o próximo avião com destino a Bissau.

Durante a viagem uma mistura de sentimentos me invadiam e me perguntava como seria encontrar todas as pessoas que conhecei ha 10 anos como estariam as criancas que costumava brincar, como estaria o país depois daquela guerra que vivenciei.

Em Dakar houve uma escala que nos obrigadram a descer porque tinham que abastecer o pequeno avião de 60 passageiros. No aeroporto uma moça fez a chamada dos passageiros que nos encontravamos em fila indiana e nos deu um vale-bilhete, tivemos que passar raio-x e no dirigimos para a sala de embarque. No caminho avistei uma lojinha de artesanato e vi uns imãs de geladeiras muito atrativos, quis entrar para comprar mas não me permitiram pois estavamos prestess a embarcar.

Embarcamos e após uma hora de viagem já sobrevoando sobre Guiné o piloto nos pede para apertar os cintos e endireitar a poltronas pois estariamos aterrezariamos em Bissau ... o avião começou a descer, deu uma volta, deu outra volta e logo uma voz nos diz que teriamos que retornar pois as condições climáticas nao eram favoráveis para o pouso. Se por um lado nos sentiamos frustrados, pensando em todos que nos esperavam no aeroporto por outro tranquilos pela prudência do piloto em não se arriscar.
No mesmo avião alguém nos disse que a companhia nos daria uma diária num hotel o que nos alegrou e até que seria uma boa ideia dormir bem uma noite e chegar com a cara menos cansada a Guine. Eu logo pensei naquele imã ...

 
Brasileiros tem muitas qualidades e entre elas a facilidade de se entrosar e achar graça da própria desgraça, nessas alturas já se havia formado um grupo também com não brasileiros, entre eles: Elisabeth (amiga de Gaudencio minha companheira de viagem), Beto (percusionista educador-social , Tereza ( esposa de um policia federal que está em missao em Guine), havia também um padre franciscano guineense, um grupo de teatro de 4 garotas guineenses, um casal francesxcolombiana e Santin (dono da radio Pindiguite em Guiné).

O hotel era enorme e de frente para o mar, foi chegar e da janela do meu quarto estava um dos pôr-do-sol mais belos que já vi.


Depois do jantar tivemos a idéia de dar uma volta na cidade para pelos menos refrescar a tensão acumulada na viagem, mas como já era tarde (22h) decidimos caminhar na praia e foi uma experiencia única, pois naquela hora da noite havia tanta gente, tantas pessoas dentro do mar, tantas crianças brincando, sentados na areia e no escuro conversando como se fosse uma tarde de sol.

Terça-feira (27/07): Acordamos cedo e as 9h da manhã o bus nos esperava para levar ao aeroporto, pois o voo estava previsto para as 10:45h, mas ao chegar ... nos deparamos com uma grande fila de passageiros que tinham seus bilhetes marcados para essa data, ao final, nao se tratava de uma avião especial ou extra e sim o mesmo que saí todos os dias. A companhia então nos avisou que se nao houvesse lugar neste voo teriamos que esperar para o dia seguinte. Eis que a discussão começa ... parecia uma verdadeira torre de babel, uns gritavam em frances, outros em inglês, português, crioulo e de alguma forma todos se entendiam... lá pelas tantas eu escutei que um dos passageiros que estava no nosso grupo era irmão do diretor do aeroporto, a policia interveio e de alguma maneira mágica - para não dizer africana, se resolveu. Enfim, fizemos o check in - os primeiros 60 passageiros os demais ficaram para o dia seguinte - embarcamos contentes e crentes que almocariamos em Bissau e prestes a finalmente concluir estre trajeto. Depois de 1h de vôo o alarme e aquela voz da aeromoça ja temida nos informa:
- Senhores passageiros, lamentamos informar que por razões de mal tempo vamos ter que regressar a Dakar, uma vez no aeroporto de Dackar serão informados sobre procedimentos futuros!.

* eu não tinha comprado o imã de geladeira e estava ganhando a segunda chance, um dos colegas se prontificou a ele mesmo comprar pois este fato estava virando: "a maldição do imã de geladeira!"

Esperamos, esperamos e continuamos a esperar informações, mais de 6 horas, sentados, com fome pois no aeroporto só havia uma lanchonete pequena onde uma coca-cola custava $ 5 dolares. A coisa foi ficando cada vez mais feia pois as pessoas nervosas exigiam uma resposta e a companhia nao conseguia rosolver nada. Entre meio a um grupo que brigava uma mulher muçulmana extende seu tapete e comeca a orar, quem sabe assim abaixa a poeira.

A Elisabeth deu uma de enfermeira e muita atenciosa com seu aparelho de medir pressão nenhum passageiro se escapou dela, muitos ficaram assustados com suas pressões alteradas.

La pelas 19h nos deram um sanduiche, ou melhor, um pedaço de pão seco com uma fatia de queijo finisssssim para ver se nos acalmavamos um pouco. Uma hora depois finalmente chega a noticia que tinham conseguido um organizar um Boing para as 5h da manhã e não teriamos direito a hotel pois o problema estava no mal tempo e não na companhia. A maioria optou por ficar no aeroporto, pois não valia a pena por tão poucas horas pagar um hotel, mesmo porque nem todos tinham condições financeiras. Foi uma noite daquelas.


Quarta-feira (28/07): embarcamos às 5h num avião grande, com capacidade para mais 300 passageiros e um sitema que permite aterrizar automaticamente independente das condições climáticas. Pousamos em Bissau como o previsto, ou melhor, com um atraso de 3 dias e muitas histórias para contar.

sábado, 21 de agosto de 2010

Bissau

a

Suzana

Vilarejo localizado ao norte de Guiné Bissau, fronteira com Senegal.  Esta região é povoada pela etnia FELUPES, uma das tantas na Guiné mas em especial esta possui caracteristicas fortes e expressivas.

Encontrar Felizberto, foi para mim uma das maiores alegrias que tive nesta viagem. No tempo que passei por la há 10 anos atrás ele era uma criança de 6 anos cheio de energia, travessuras e alegria como seu nome mesmo diz. Hoje ele se apresenta um pouquinho mais alto, mais homem mas mantem em seu rosto a doçura e um olhar de quem está aprontando.
Me presenteou com uma galinha e não creio ter recebido nunca um presente tão significativo em toda minha, isso me encheu de emoção!

20101999


O Pe Zé Fumagalli é uma das pessoas mais inteligentes que conheci e tem uma didática e maneira de comunicar única. Durante as poucas que estivemos em Suzana eles nos levou para conhecer algumas comunidades onde a igreja se faz presente e depois para sentir um pouquinho a aventura de ser missionário entramos na mata, caminhamos e caminhamos muito sob a chuva fraca e o calor. 


Primeira Missa do Pe Gaudencio

A primeira missa do Pe Gaudencio aconteceu um dia após sua ordenação, no domingo pela manha na Igreja Santo Antônio de Bandin. A igreja estava lotada, havia gente na rua que mal escutavam mas mesmo assim permaneciam em silêncio respeitando toda a liturgia.


A Jornal Missão Jovem também se fez presente por meio de umas camisetas que representams os cincos continentes, enviadas pelo Pe Paulo de Coppi.



Todos os religiosas e religiosas se alegraram muito e vieram de todos os cantos do país para participar.




Logo após a missa, no salão paroquial estava organizado um almoço festivo.  Um mesa grande com vários bolos enfeitados, refrescos e um prato de comida (arroz com frango) para cada convidado.


A fetsa foi cheia de surpresas, num determinado momento todos os amigos e parentes participaram e para nossa supresa nos os estrangeiros fomos presenteados com trages típicos da Guiné. Houve danças, brincadeiras e cantos sempre animando a festa.


As surpresas não terminaram ... não poderiamos ir a Bissau e deixar de conhecer umas das expressões artísticas mais bela que a nação possui, falos do grupo "Os netos de Bandin", um grupo com mais de 40 componentes entre eles adultos e crianças que dançam, tocam instrumentos típicos e apresentam sua cultura de maneira fascinante.







Ordenação Pe Gaudencio

Há muitos anos atrás, um jovem guinense, desperta para a vocação missionária e ingressa no Pontíficio Instituto das Missões Estrangeiras (PIME). Embarcamos juntos para o Brasil, eu voltando de uma das mais lindas experiências da minha vida e ele começando uma caminhada dura por vezes mas cheia de sentido e fé. Durante o processo de sua formação passou alguns anos na cidade de Brusque próximo a Florianópolis (SC), aprofundando sua amizade com toda minha família. Foi com muita alegria que recebi o convite para fotografar sua ordenação e de participar deste momento tão importante na sua vida e na história do PIME.

O dia 31 de julho de 2010 foi especial para a Igreja da Guiné-Bissaú, porque o Pe. Guadencio, disse SIM ao projeto de Deus para sua vida, se consagrando no sacerdócio. A celebração aconteceu na Igreja Nossa Senhora de Fatima, por ser a maior Igreja de Bissau.

Enquanto o coral aquecia a voz e terminava de ensaiar os ultimos cantos, as pessoas iam chegando, com seus trajes de festa bem coloridos e se acomodando nas inumeras fileiras. Parentes, amigos da Guiné, do Brasil e da Itália, religiosos e leigos missionários de todo o país estavam presentes nesse dia. Alguns vindos de muito longe tiveram que enfrentar diversas dificuldades na viagem pois, nesta época chove muito e as estradas ficam bem comprometidas.

As mulheres estiraram vários “panos guineenses” sobre o corredor central formando um tapete por onde os padres passariam. Os panos tradicionais da Guiné, conhecidos como “pano de pente”, é o têxtil confeccionado no tear artesanal em bandas ou tiras que depois de costuradas, em número de seis tiras, constitui um pano. Presentes em todas as manifestações culturais e de acordo com as cores podem ser utilizados como transmissores de mensagens, panos pré-nupciais, nupciais, cotidianos e panos fúnebres


Inicia-se a celebração da missa com a procissão de entrada composta por coroinhas, seminaristas, padres várias nacionalidades e congregações, o bispo da diocese de Bissau Dom José Canmate e o Bispo da diocese de Bafatá Dom Pedro Zilli, brasileiro e missionário do PIME. O Diácono Gaudencio estava sentado na primeira fileira de frente para altar ao lado de seu padrinho com a mesma serenidade e paz com que entrou no seminário.

O pároco da Igreja, Pe Marco Pifferi acolhe a todos juntamente com o Pe David reitor regional do PIME e logo o Bispo saudou a assembleia em crioulo, lingua local mais falada, embora o idioma oficial seja o portugues eles também falam em dialetos tribais próprios de cada etnia. Após a Proclamação do Evangelho, o diácono chama o candidato ao Ministério Presbiteral, que responde, em alta voz: “Aqui estou!” Em seguida, o superior do PIME representado na pessoa do Pe Alberto Zamberletti - conselheiro do PIME, pede ao Bispo para ordená-lo e assim o diácono Gaudencio começa a receber o sacramento da Ordem.

Neste momento, o Bispo inicia a homilia explicando o sentido do ato que está sendo celebrado deixando todos muito emocionados, pois se tratava do primeiro missionário guineense, destinado a Papoa Nova Guiné, Oceania. Num tom de descontração e orgulho filial o Bispo fez o envio dizendo “de Guine a Nova Guine”. O PIME está presente há mais de 60 anos em Guine Bissau e em todos estes anos ajudou muito na formação de inumeras vocações diocesanas e pela primera vez a Igreja Guinense ordena um sacerdote no Instituto missionário. Tendo recebido muito por graça de Deus, a Igreja de Guiné Bissau responde doando também seus filhos para a missão universal da Igreja. O povo de Deus que estava presente na cerimónia da ordenação e nas primeiras missas do novo missionário guineense, se comprometeu em apoiar p. Gaudêncio rezando para a sua missão e “botando mãos” (apoio material).

Após a homilia, o Bispo interroga o eleito, sobre seu desejo em aceitar o encargo de presbítero. Por fim, de joelhos e com mão postas entre as mãos do Bispo, promete obediência, a seu legítimo superior e ao Bispo Diocesano.

Prostrado e coberto inteiramente com “panos guineenses”, em sinal de despojamento e humildade, o eleito e toda a assembléia cantam a Ladainha de Todos os Santos, pedindo o auxilio e a intercessão daqueles que nos precederam na fé, para que Deus derrame sua graça e sua benção sobre aquele que foi escolhido para o cargo de presbítero. Nesse momento percebe-se que o diácono Guadencio se mexe como que chorando e no dia seguinte ele nos revela que esse tinha sido o momento mais emocionate do rito.



Em silêncio, primeiramente o Bispo, e depois todos os sacerdotes concelebrantes, impõem as mãos, um por um, sobre a cabeça do eleito, que está de joelhos. A seguir Gaudencio foi revestido dos paramentos próprios do presbítero: estola e casula, auxiliado pelo Pe Fabio e Pe Biblop, os dois novos missionários do PIME de Guine.

A seguir o Bispo ungiu as mãos dele com o óleo do crisma e entregou o cálice (com vinho e água) terminando com um abraço caloroso e convidando a todos os cocelebrantes a darem também um abraço. Segue-se a liturgia Eucarística, já concelebrada pelo Pe Gaudencio - neo-sacerdote, com a apresentação das oferendas da maneira africana, carregando as oferendas na cabeça e dançando.


Pe Gaudencio no final da missa falou e agradeceu a presença de todos de uma maneira tão docil e profunda que emocionou a todos e nos convidou a participar d eum almoço festivo no salão da Curia Diocesana. Depois nos dirigimos para a casa da mãe do Pe Gaudencio, que nos esperava com um mesa cheia de doces e salgados para brindar. Ali novamente provamos e saboreamos tudo com alegria. De repente se forma uma roda de dança ao som de rigorosos tambores e todas as pessoas ali presentes festejam como só os africanos sabem fazer.

Bafatá

BAFATÁ

Bafatá é a segunda maior cidade da Guiné-Bissau com 10.000 habitantes. Fica no interior do país na margem do Rio Geba, 150 kms a leste de Bissau.
Cidade tranquila, caracterizada por uma predominância de casas coloniais, infelizmente num estado avançado de degradação. O herói nacional, Amílcar Cabral, nasceu em Bafatá e esse fato está assinalado num pequeno monumento com o seu busto e na casa onde nasceu, perto do Mercado Central. A cidade fica numa colina sobre o Rio Geba. 12 kms a oeste ficam as ruínas de Geba, um antigo entreposto português.

No caminho ao passar por uma ponte nos impressionou ver como as  mulheres pescavam, formavam 3 filas e todas coms suas redes arredondadas e um balde na cabeça, algumas até com criança nas costa pescavam numa harmonia lindo de ver.




Terra de Dom Zilli

Dom Pedro Zilli, bispo de Bafatá é brasileiro natural de Ibiporã (Paraná). Ele é sacerdote do PIME (Pontificio Instituto das Missões Estrangeiras), que possue como características forte a HOSPITALIDADE e disto Dom Zilli entende muito bem. Ele nos recebeu de braços abertos, mostros todas as atividades que vem fazendo na sua diocese, nos apresentou as leigas brasileiras que com ele trabalham há um bom tempo e sempre cheio de entusiasmo e otimismo nos convidou a ajudar essa missão.

No dia em que ele foi ordenado bispo em Londrina eu tive a oportunidade de participar e muito humildemente o presentiei com um crucifixo e jamais imaginaria que ele seria para a capela na casa do bispo, foi uma alegria grande.

Cacheu

Foi a primeira feitoria portuguesa na Guiné, fundada em 1588, e serviu de entreposto para o comércio de escravos, tendo sido criada para o efeito, em 1675, a Companhia de Cacheu. Na região de Cacheu foram criados vários estabelecimentos portugueses ao longo do século XVI. A zona esteve dependente de Cabo Verde até à criação da província da Guiné Portuguesa, em 1879 (http://pt.wikipedia.org/wiki/Cacheu_(cidade)

A viagem para Cacheu foi acompanhada de muita chuva, alias estavamos em pleno tempo de chuva, onde chove TODOS os dias e o céu está sempre carregado. As tormentas na Africa são muito fortes, os raios junto com vento chegam a destruir telhados das casas e árvores gigantes como Poilom e Baobá.


Ao chegar na cidade nos dirigimos à casa das irmãs que prontamemte nos levaram para visitar o porto, o mercado e a primeira igreja construida pelos portugueses no tempo da colonização.